Crônicas
Até a próxima língua
– F-L-E–I–S–C–H!, CARNE, entendeu?
Ela já estava aqui em Viena fazia alguns meses. Aterrizou direto na comunidade brasileira. De lá mesmo se enroscou com um conterrâneo por que afinal, conhecer um frio nunca imaginável em sentir e Continue reading
A vinda, a vida e os limões sem peneiras
Em memória a Marcelão, grande amigo que deixou muitas saudades
Nós éramos um grupo de brasileiros chegados e se achegando em meados dos anos 80. O endereço, sempre o mesmo. O edifício era de um figurão da UNO que, por algum motivo inexplicável, só alugava para brasileiros. O emprego, também sempre o mesmo. Conseguimos monopolizar a cozinha de um restaurante mexicano muito badalado na época. Significa que: só trabalha aqui quem, além de ser brasileiro, for legal, bacana e passar no nosso casting. O proprietário do restaurante era uma bicha que apelidamos de a „Propriaotária“. Só aparecia no final da noite para receber o lucro.
Útero, esse antagonista da morte
A melancolia desta história, neste lindo outono, é uma forma de trabalhar o luto. Escrever sobre a morte de quem meu deu a vida. Zilda faria
A formiga e a mulher em questão
Tudo começa com uma forma inofensiva, uma forma formiga. Aparece do nada, aparece tipo formiga.
– Ai, os óculos sumiram!
Formiga ainda inofensiva, pequena, inocente. Ela – a mulher em questão, sem pretensão – sai andando pela casa, procurando. Passa pelo banheiro e vê o cesto enorme de roupas sujas, procura no quarto e descobre poeira debaixo da cama.
O duelo das desterradas
Eu a via através do espelho de aumento. Olhos esbugalhados, órbitas em evidência. Ela passava rímel e cada cílio disparava uma frase. “Antes de botar pra dormir, tem que escovar os dentes, colocar o pijama…”.
Cheiro de alho saindo pela boca, “…Mas antes pergunta se não quer comer nada”. Quando eu cheguei ela ainda engolia às pressas um prato de macarrão. Falava sem parar. Andava pela casa, catava lenços largados, sapatos pelos cantos, casacos pendurados. A casa, uma bagunça só. Com certeza é a cara dela esta desordem.
Será que não vai passar nem um perfuminho pra disfarçar esse fedor de alho?
Esta pelo menos acertou chegar sem eu ter que rebocar da esquina. Porque muitas não conseguem nem achar o prédio. Acham que o número 26 de um lado da rua tem que estar bem na frentinha do 27 e desistem depois de verem que o 26 tá de cara com o 34… Mas esta não, nível bom, nível bom. Formada ainda por cima. Deve ter se apavorado com o meu jeito e o meu bafo de alho. Foda-se. Tô pagando e caro por hora pra ficar mais da metade do tempo vendo tv ou dormindo. Ainda bem que dei bastante coisa pra ela fazer. Dar banho nos “pintos“, fazer mingau, mixto quente, nescau, botar pijama, escovar os dentes, ler estorinhas, botar pra dormir. Cê pensa que é mole, fofa? Filho é ralação. Esta então que veio “trazida”não sabe ainda o que é ralar no velho mundo. Ainda não mergulhou na água gelada da realidade alpina. Já chega com um teto sobre a cabeça e o aquecedor ligado…