Feia de doer

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barca-ovo_LOK. é feia. Feia de doer. O nariz muito avantajado dominando o espaço, a boca encaramujada para dentro da face, os olhos se desviando um do outro… Nada é Caetano, linda mais que demais. Mas tem um porém que muda todo o destino:

K. foi amada na infância. Teve um pai zeloso, que corria orgulhoso pelo salão carregando a filha nos braços. “Isso, valsa se dança assim!” A mãe lhe incentivando desde pequena a rimar as palavras, já que nada rimava na cara de K. “Um polvo come ovo. O ovo é o outro. O outro é Otto!” Que lindo, minha filha, adorei! Uma menina bonita cresce ouvindo princesa, K. cresceu ouvindo inteligente. K. também foi agraciada em nascer onde nem ligam para unhas encuticuladas e peitos caídos. K. não viu novela das oito nem sabe o que é ácido hialurônico. K. cresceu e estudou línguas e literatura, comércio e economia. Sempre buscando a harmonia que lhe foi negada na face. K. sabia da própria feiura, mas sentia também a imensa poesia que vivia dentro dela. Conheceu o sexo e seus delírios. Descobriu seu próprio prazer e quase se desmanchou em versos ao perceber que sabia dar prazer ao outro. Pegou um cara legal. Bonito? Até demais. O público em volta calado. Como pode um cara lindo desse com… deixa pra lá. A sincera felicidade conjugal estampada, esbofeteando o público ao redor. Ele, mais que sábio, pensava quieto: “Princesas são fábulas mal-humoradas. Mulher pra mim é mente, coração e boceta!” Fundaram uma firma, ganharam muita grana, tiveram filhos. K. agora está sentada à minha frente e sorri. A boca se abre em latitudes dengosas, o nariz se arrebita, os olhos brilham formando duas gotas deitadas. Covinhas generosas. K. é linda!

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