Um abraço de mãos

IMG_0574_LOEu mal acabei de conhecê-la. Aliás, eu não a conhecia. Tratamos pelo telefone, e ela me disse que tinha que ser no apartamento dela.

„Não dá tempo, enquanto eu te atendo, vou botando um arroz pra cozinhar“, e depois sairia correndo pra buscar as crianças. Tudo bem, me desloquei pra lá.

Eu mal acabei de falar alô. Como reagir a confidências não desejadas? A intimidades não requeridas? No caminho, pensava no que ela já tinha me contado, nos poucos minutos de conversa telefônica, que nada tinha a ver com o serviço proposto. O tipo da pessoa que consegue afogar o tempo, inflando-o de palavras e sentenças numa velocidade e intensidade descontroladas. Quantas histórias cabem num relato? Quantas certezas cabem numa opinião? Quanta intimidade e confissão cabem numa simples apresentação?

Eu mal acabei de sentar, e ela carinhosamente envolveu minhas mãos nas suas, abrangendo-as para além dos meus pulsos. Um abraço de mãos. Me encarou bem perto do seu hálito, o tato entre epidermes e dedos era quase uma osmose. O chão dos seus olhos encheu como piscina de clube, desengonçada e desastrosa. „Se eu chorar, não ligue, é que eu sou muito emotiva e tenho passado por sérios problemas, eu vou te contar tudo.“

Boca sem corpo produzindo roteiro de telenovela. „Aí eu virei pra ele e falei assim…“ Água morna para amolecer, „você não acha que eu tô certa?“. Uma espátula pra empurrar, „imagina se fosse com você, o que você faria?“. Polimentos para acertar, „comigo é assim, você sabe do que eu estou falando, né?“. Carnes para arrancar, „fiz mesmo e faria de novo, qual mulher aguentaria isso?“. Cores para embelezar, „você acredita que alguém pode ser cara de pau neste nível?“. Última camada pra finalizar, „você é sempre tão calada assim ou sou eu que falo demais?“.

Eu mal acabei de conhecê-la. Aliás, eu não a conhecia. Aliás, eu só vim aqui para fazer as unhas…

Art (left) by Anita Witek, Kunsthaus, Wien. Art (right) by „manicure anonymous“

AYAHUASCA II: Interview mit Ph.D. E. Schöneberg

Schenberg–©PrivatZur Person: Magister in Psycopharmakologie und Ph.D. in Neurowissenschaft an der Universidade de São Paulo. Forscht unter anderem über die psychologischer Wirkung von Ayahuasca in Verbindung mit elektrischer Gehirnaktivität.

Welche Krebsart kann mit Ayahuasca behandelt bzw. geheilt werden?
Es gibt Continue reading