Os desencaixados

Casamento do meu irmão, hoje. É impressionante perceber, hoje, como a vida se encaixa. A nossa vida que nasceu desencaixada. Hoje, comemoramos o casamento que, para alguns, é, no mínimo, um desencaixe. Para nós, filhos do desencaixe, é um dos acontecimentos mais encaixados do mundo. O desencaixe aconteceu com a morte do nosso pai. Uma vida toda planejada no encaixe – até que a morte súbita dele provocou o desencaixe de seus filhos e mulher. Crescemos no desencaixe e fomos felizes nele. Países, objetivos, pessoas, sonhos, tudo desencaixado. A beleza do desencaixe, a agonia dos desencaixados, deliciosos riscos, fomos vivendo. Vivendo sem saber que buscávamos nosso encaixe, só nosso. Sem receitas prontas. E, hoje, olhando a vida do meu irmão, o trajeto feito até aqui, agora, os desencaixes vividos, gozados e sofridos, tudo faz sentido. Como se, agora, os desencaixes, que pareciam enigmas, se esclarecem como céu azul varrendo nuvens. Uma congruência tão óbvia de tempo e espaço que é impossível explicar a lógica do acaso. Do acaso Viena, do acaso hoje, e não ontem, do acaso desse cabelo ruivo longo, e não qualquer outro, do acaso constelação familiar, essa, e não outra qualquer chorando lágrimas polpudas, descendo em corpo robusto, encaixando suas mãos rechonchudas nas mãos do meu irmão. A outra mão ele tem enrolada na do cara de longo cabelo ruivo, esse ruivo, e não qualquer outro. Totalmente alheios ao desencaixe ao redor, eles, subversivamente, se entregam ao encaixe. Deles, só deles. Merecidamente deles.


“Eine gute Übersetzung liest sich so, als wäre sie nicht übersetzt” – Interview mit Michael Kegler

Nacht_Einband_4.inddDer deutscher Übersetzer Michael Kegler hat voriges Jahr gemeinsam mit dem Schrifsteller Luiz Ruffato den Hermann-Hesse-Literaturpreis gewonnen. Anlässlich der in November in Wien statttfindenden brasilianischen Literaturwoche spricht Kegler über erzählerische Melodien, verschriftlichte Dialekte und warum es weh tut ein schlechtes Buch zu übersetzen. Continue reading

Der Bub mit der Federkrone

©Fernanda_NIgro_Cocar_LOA short history in german published by Biber.

Der Bub mit der Federkrone

Das hat uns noch gefehlt! Damals im Jahr 2027 wurde nach zehn Jahren intensiver Diskussion das Kopftuchverbotsgesetz beschlossen. Eine notwendige Maßnahme gegen die Entcharakterisierung und Dekonstruierung unserer westlichen, fortschrittlichen, freien Meinungswelt. Aber dann passiert es schon wieder: da kommt einer daher mit diesem Dingsbums auf dem Kopf! Continue reading