Tem coisas iguais no mundo que são diferentes. Explico: Em algumas partes da China, faz parte dos bons costumes arrotar depois da comida. Mas em muitas partes do mundo é falta de educação. O homem tem piriri, a mulher tem pororó…..e por aí vai. Mas tem uma coisa que é igual no mundo inteiro: Sogra! Eu amo de paixão a minha sogra, pra mim é Deus no céu e Sogrinha na Àustria. Mas sogra não deixa de ser o que ela é: Sabe mais do que a nora, tem sempre um conselho pra dar e ai,ai,ai de ti se falar mal do(a) filhote(a) dela. Sogrinha defende até o fim. Tanto quanto eu farei se, um dia por ventura, me tornar sogra (coitada da infeliz!).
Sogrinha se irrita com a minha extrema sensibilidade para baixas temperaturas. Verdade é que eu aprendo muito com Sogrinha. Por exemplo: Eu, carioca da clara, aprendi a tomar banho ao ar livre com uma temperatura do ar menor que 30 graus. Aqui vai o manual de instruções: Aquela trocação de biquinis e maiôs no meio do gramado que antes eu achava pura vaidade dos austríacos, ficou explicada: Com 40 graus qualquer pedaço de pano seca em minutos, com 20, já fica mais complicado. Então, para evitar a bateção de dentes, logo que sair da água, sempre tenha á mão uma enorme toalha, ela será útil para duas coisas: 1) para secar o corpo e 2) enrolada no corpo e com um pouco de know-how, servirá de cabine para trocar o traje de banho por um outro seco. Depois procura-se um lugar ao sol e na falta deste, dá uns pulinhos, umas corridinhas pra tirar o roxo dos lábios e a pele de ganso.
Para Sogrinha não existe frio, existe gente sentindo frio, o que é muito diferente. No verão, Sogrinha diz: “Frio? Não está frio! O teu biquini é que deve ser trocado, “logisch!” (é lógico!)” No outono, Sogrinha se irrita: “”Logisch” que está sentindo frio com esta capa de chuva! Você precisa de um Trenchcoat acolchoado e impermeável”. No inverno, fazendo menos 15 graus, Sogrinha ataca: “Pés congelados? “Logisch”, você não calçou a bota forrada de pele de carneiro…” Nevando Sogrinha revida: “A neve está derretendo e você com esta bota? “Logisch” que o pé tá molhado! Tem que ser uma bota impermeável, de nylon e forrada”….e por aí vai. Sogrinha tem razão, fazer o quê? Para suportar o frio, precisamos acreditar que somos mais fortes do que a natureza (e pra suportar sogra, precisamos acreditar que somos mais fortes do que elas!).
Um belo dia, Sogrinha resolveu ir ao Brasil. Eu já estava lá e fui buscá-la no aeroporto de taxi super-refrigerado. De manhã cedo, o sol já brilhava forte e prometia arrazar no céu azulzinho. Sogrinha chegou alegre e cheia de coisas para contar, a longa viagem do lado de um roncador e de uma dançarina profissional que lhe mostrou fotos do carnaval e explicou tudo sobre a “Estasson Primero de Mangueira”, Sogrinha fascinada, os olhos brilhando, cheia de energia pra conhecer este novo mundo. O motorista seguiu minhas instruções e parou o carro bem na saída da porta automática. Sogrinha estava tão empolgada que, sem perceber, já estava dentro do taxi fresquinho. Passamos pela linha amarela, favelas de um lado, engarrafamento do outro, Sogrinha achava tudo interessante e diferente, falou até em fazer uma dessas excursões à Rocinha pra conhecer de perto a vida lá. Pegamos a ponte e fomos direto para a praia de Icaraí. Pedi ao Motorista pra dar uma paradinha ali na esquina com a Otávio Carneiro. Saltamos e fomos andando em direção ao mar. Às 10 da manhã o termômetro da esquina marcava 35 graus. Sogrinha ficou boquiaberta, no seu rosto, todos os sentimentos misturados: espanto, euforia, estranheza, felicidade, deslumbramento, talvez medo? Quando ela conseguiu balbuciar alguma coisa, estávamos já quase na margem da praia. De cara com aquela paisagem maravilhosa, o Pão de Açucar, o Corcovado, O museu, Sogrinha estava pasma: “Meu Deus, é lindo, lindo… mas….mas…” respirou fundo, “Que calor! Tá muito quente!” Abri um sorriso de quem já esperava estas palavras e fingindo-me surpresa: “Calor? Não está calor! Tá super fresquinho! Você que não está vestida adequadamente….” Sogrinha se irritou: “Como não? Estou só de Camiseta! Qual seria a roupa adequada para este calorão?” Fui ajudada por uma beldade que neste instante passava na nossa frente, apontei para a bunda enorme e seminua da mulher: “Biquini, é “logisch”!”
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