De tropeços a vexames: tudo ela já tinha experimentado. Um tempo atrás pediu pro marido comprar Milchreis e ele trouxe arroz para cozinhar com leite e não o desejado por ela: Reismilch (leite de arroz). A última gafe foi quando pediu pra Continue reading
Author: liv_mat
Maria tá chegando!
maria tá chegando!
não conheço maria.
maria me achou no blog.
maria vem pra viena.
maria quer dicas, quer amigos, quer saber.
maria tem medos.
medo do frio, da língua alemã, medo da própria coragem de pedir demissão e arriscar uma vida nova com um estrangeiro.
maria tá apaixonada.
história de amor contada em helvética.
maria tá chegando!
vai trocar o posto 9 pelo adria bar.
o calor pelo frio.
o vertraut pelo unbekannt.
o confiável pelo desconhecido.
maria virou a página e, como se passasse de ano na escola, comprou um caderno novinho.
Ali, maria vai escrever uma nova história.
a mesma vida numa nova vida.
e, daqui a 10 anos, o que será que maria será?
maria vai brigar também pela vez na fila do anker?
maria vai curtir andar pelas ruas da cidade sozinha à noite sem medo.
maria vai aprender a falar zwetschen?
maria vai ter que entender que o feminino vira masculino e que a vida continua.
comer neve? cair do ski?
maria vai se ver desfigurada, nua e com labirintite no espelho.
sentar no metrô e chorar por nada…
maria vai amar o previsível, o tempo, o ônibus, o amanhã, a hora marcada com três meses de antecedência.
maria vai tomar menos banho?
maria tá chegando!
maria vai gritar de alegria e o estrangeiro vai se apaixonar ainda mais: „como ela é espontânea!“
maria vai voltar da rua e gritar de raiva: „não entendo, não entendo, não entendo!“
maria vai gritar de prazer por ter achado um homem tão bom e romântico.
vai ligar pra mãe e falar que tá tudo bem… mesmo?
maria não vai saber o que dizer.
alguma coisa vai mudar dentro de maria e ela não saberá o que, nem pra que, nem como.
ou será que maria vai se fechar e continuar lutando por acreditar que estrangeiros são eles e nunca ela mesma?
maria vai ter que entender o esquema da chave para o elevador.
iiih, maria vai se embananar toda na caixa do supermercado com as compras.
vai lavar a alma no danúbio!
será que vai comer gulasch de madrugada no ansengruber?
passear no „baixo nasch“…
… comprar velharias no flohmarkt.
rir com as bichas no savoy?
maria vai entender por que justiça social é melhor do que bondade individual…
ah, mas maria vai perder uma outra virgindade!
porque maria vai aprender na marra que ser inocente é diferente de ser ingênuo
maria naiv, maria unschuldig
maria vai pirar quando a agredirem com sorriso nos lábios
porque a emoção pode ser contrária à mensagem
e o que importa são só as palavras
ai, maria não vai mais poder mandar tomar no cu por amor…
maria tá chegando!
quantas marias já chegaram?
muitas. cada uma com seus apocalipses próprios, neu starts pessoais.
marias trazidas por amores impossíveis.
homens que querem o exótico, o desconhecido, no meio do seu velho e manjado mundo.
sem pegar dengue, sem ser assaltado, sem sentir a vida pulsar nas veias nem a adrenalina corroer a razão.
eles, os trazedores de marias!
será que lá o contrário também existe?
marias trazedoras?
maria tá chegando!
maria vai brigar com ele e vai querer voltar.
maria vai voltar pra de onde veio.
será?
maria volta mas só sabe pra onde.
não sabe mais pra quê.
às vezes ela vai só até a esquina.
só pra ir. só pra voltar.
na igreja, casando, ele vai cutucá-la na hora que ela tiver que falar sim.
maria vai engravidar e, na hora de parir, vai xingar de dor em português.
maria vem, maria fica.
maria fica?
deixa chegar, willkommen maria!
quanto tempo maria vai demorar pra realmente chegar, inteira?
e quanto de maria vai sobrar então?
e qual maria maria vai ser?
maria?
tá chegando!
… lavar a alma no Danúbio… |
Anéis cheios de dedos, colares cheios de pescoços.
No momento em que a forcei a me dar a mão, percebi por que consigo viver aqui. Meu egocentrismo não me deixa enxergar o outro como ele é, ou como ele gostaria de ser visto, mas, sim, como eu quero. E, por isso, minha mão permaneceu firme, estendida até ser recompensada com o aperto.
Escritórios modernos esterilizados geram trabalhadores esterilizados. No chão, nas paredes, nas mesas, só existe petróleo em forma de plástico. Alguns, mais sensíveis, não aguentam tanta falta de vida e trazem plantas, decoram com bichinhos de pelúcia, fotos das crianças… Mas esta não, esta dava pra perceber que era do tipo superorganizada, lápis e canetas fazendo uma fileira certinha na mesa, segurando o desfile: de um lado o apontador, do outro a borracha.
Ela tinha as raízes em algum lugar próximas às minhas. Só se via pelos olhos. As pálpebras faziam aquela curvinha doce, tipicamente latino-americana. No mais, era a eficiência em pessoa. A funcionária correta, certinha. Só uma coisa não se encaixava na cena: para cada anel, vários dedos; para cada colar, vários pescoços. E isso a tornava bonita, até linda. Porque era imperfeita, porque, por trás de tanta eficiência e perfeição, os anéis teimavam em ter mais dedos do que poderiam, e os colares, mais pescoços do que era cabível. Nervosa, procurava no computador um „remédio“ pra essa paciente tão exótica. Depois de uma rápida análise computadorial, ela vira seu tronco, que se separava do meu por uma mesa, e diz, decisiva:
– A senhora está desempregada faz muito tempo e precisa, a partir, de agora fazer um curso… qualquer curso. Diga: do que a senhora precisa? – Os anéis e colares debochavam, me encarando: „Isso mesmo, bota um curso nela, um curso pra concurso.“
– Tipografia seria bom… Mas tem que ser em MacIntosh.
– Tipo o quê?! Mac was? – Ela procura desesperadamente no computador por uma solução. Alguém já tentou explicar, em dois minutos, pra um(a) funcionário/a público/a do Ministério do Trabalho austríaco por que MacIntosh, ou o que significa layout?
– Ah, tá aqui, achei a solução: Deutschkurs, curso de alemão! Não é ótimo, senhora… senhora… – Ela procura rapidamente pelo meu nome no computador. – Senhora Mares?
– É, é… acho que sim. – respondi, meio surpresa com o novo destino.
No Brasil, quando você tá desempregado, não consegue pagar o aluguel, corre pra mamãe, papai, volta pra casa deles, e eles te mandam fazer um desses cursos pra concurso. Na Áustria, a mamãe e o papai se chamam Arbeitsamt, Secretaria do Trabalho, que funciona no mesmo esquema: te dão uma mesadinha (salário-desemprego) e te mandam ir à luta. Daí, passam uns meses e você não consegue emprego, te empurram um cursinho qualquer. Dessa forma, você não aparece nas estatísticas como desempregado, e o partido regente enche a boca pra dizer que existem cada vez menos desemprego no país. E nada melhor do que um cursinho de alemão pra uma Ausländerin, uma estrangeira.
Enquanto ela passava os anéis em cima do papel, me explicando aonde ir, eu pensava na solução tão repentina tomada por colares e pescoços alheios. Depois de vinte anos de Áustria, de novo um cursinho de alemão. Mas vai ser bom, Lina, afinal até hoje você esquece que a palavra “amor” é feminina, assim como “trabalho”, “sol”… Ai, pra quesaber tudo isso se sei amar, ralar e procurar desesperadamente pelo sol nos dias cinza, sem encontrar? Ela se irrita com meu olhar distante.
– A senhora está prestando atenção? – Trim, trim, os colares em forma de cascavel: „Taca um curso nela, um curso pra concurso, ssss, ssss.“
– Claro, claro. Estou entendendo tudo.
Ela leva a folha de papel ofício com o logo da repartição pra mais perto do meu rosto. Anéis debochados, bailando sobre o papel, me apontavam o dever de casa. Seus olhos impacientes pedindo atenção. Endereço, hora, data…
– A senhora entendeu tudo? Senhora… Senhora… – Mais uma olhadinha no computador (ou melhor chamar de oráculo?). – Senhora Mares?
– Sim, sim. – Levantei-me e, num gesto puramente intuitivo, estendi a mão pra agradecer, me despedir, coisa normal mesmo, sorriso nos lábios, espontânea eu fui. Ela já tinha se virado para o computador, eu era um caso encerrado e já tinha liberado seu Aufwiedersehen, tchau. O próximo „paciente“ já irrompendo a cena. Mas, entre mim e o próximo, tinha aquela mão, a minha mão estendida na cara dela. Uma mão espontânea, amigável, agradecida. Ela não teve escolha nem tempo pra pensar. Estendeu a mão pra mim. Ainda a olhei nos olhos enquanto as mãos se uniam. Sorrisos, tatos, impressões entrelaçadas, digitais. No meio de tanta esterilidade, algo orgânico acontecendo. Colares tilintaram, anéis se esfregaram, e ela, em fração de segundos, foi outra, foi mais natural por trás da maquiagem e dos apetrechos, até sorriu. E, no segundo seguinte, ela se toca de que não fazia parte do trabalho dela, de que não era normal apertar a mão de qualquer requerido/a. Mas não dei chance de ela se irritar. Me permitindo uma comparação perversa, é tipo quando você não tá a fim, mas a figura te pega de um jeito, e com um jeito, que a gente,sem perceber como, já gozou. Pois, acabado o aperto, ela ficou lá, com a mão parada, me olhando com cara de besta,enquanto eu dava passagem para o próximo. A expressão no rosto maquiado era uma confusão de emoções: bem-estar, inquietude, espanto. Também me espantei com essa fração de segundos que sucedeu a trepada. Retomei minha postura mais rapidamente, enquanto ela ficou ali, parada, com aquela mão gozada. Meio sem graça, meio perdida, pra, logo depois, voltar a ter as feições duras, a coluna travada, as pulseiras voltaram a ter mil braços, os brincos cheios de orelhas. Recomposta, ajeitou-se na cadeira, colares fazendo ssss, ssss. Travou a boca pra falar um „Pois não?“ ao próximo, enquanto eu fechava a porta de vidro, levando comigo o tilintar dos pescoços. Ssss, ssss.
Os pretéritos do samba ou O samba „Plusquamperfekt“!
O pai foi criado no subúrbio de Viena. Odiava a escola porque segundo ele todos os professores eram nazistas, com exceção do professor de Desenho. Acabou virando artista, lógico. Raspou a cabeça dos lados, armou um moicano, tacou tachas no figurino. Com 18 anos ganhou de presente uma viagem à Amsterdam e foi todo eufórico experimentar os Cafés que vendiam haxixe do mundo inteiro. No meio do caminho um sujeito lhe vendeu uma mercadoria de primeira com qualidade superior a qualquer coisa encontrada nos locais, comprou. Ele e seus amigos voltaram excitados para o hotel pra fazer o primeiro baseado da vida. Decepção total: era tempero Maggi puro.
A mãe, brasileira, de criança pegou todas as micoses e perebas nas areias de Icaraí, cresceu e trocou a poluição da Baía de Guanabara pelo mar limpo e cheio de „gatos“ de Itacoatiara. Na roda de amigos além de torta de banana integral, biquini de crochê e muitos baseados, rolava também os mais diversos papos das mais diversas bocas:
– Cara, cu é foda de foder! Buceta por mais apertada que seja, é mole! – Falava Igor, bofe cheio de certezas que comia todas e não se enquadrava em nada, nem bicha, nem hippie, nem mauricinho. – Cu você precisa arrebentar as pregas, é muito mais difícil, cara! – E assim ela, que era a caçula da galera, foi crescendo e se moldando, entre um mergulho e um mate gelado, batendo palmas pro pôr do sol e acreditando que a era de aquário mudaria o mundo. Por um acaso veio para a Europa, por um acaso maior ainda parou em Viena e conheceu o cara do primeiro parágrafo.
Ele armava o moicano, jogava a jaqueta cheia de tachas por cima do ombro e ia pro único bar de doidões em Viena, um porão enfumaçado ouvir Kraftwerk e The Residents. Enquanto isso do outro lado do oceano, ela se vestia com longos vestidos indianos, enfiava os pés numa sandália de couro e ia ver Sá e Guarabira na estação das Barcas.
Enfim, Thulio era filho deste casal, mistura quase impossível que de tão impossível acabou dando certo. A mãe usava sua língua materna só para os adjetivos extremos, xingar ou amar. Para o resto ela dizia:
– Nada melhor do que ter uma gavetinha pra cada coisa, a vida decifrada em verbos modais: können, sollen, wollen, müssen, mögen, dürfen. Poder, dever, querer, gostar, permitir-se, (ser) obrigado. Tão simples, né meu filho? Tá tudo aí o que a gente precisa pra ser um ser humano civilizado.– Ela arregalava os olhos excitada. Ele já a conhecia, quando ela começava com suas definições se empolgava de tal forma que era difícil fazê-la parar. E ela continuava:
– Bulas e manuais de instruções? Só em alemão. Língua precisa, definida, nítida. Te agarrar e te „socar“ de beijos? Só dá pra falar em português, meu pequerrecho, pocorrócho, pucucho!
O mais velho ouvia uma frase e antes de sair batido, cochichava no ouvido do mais novo: „Liga não, é doidinha!“
– Modal vem de moldar. Assim se molda um ser humano, entende, Thuthu? Porque adorar, idolatrar, odiar, amaldiçoar isto tudo não faz parte da moldação, saca, filhinho? Faz parte da piração, sacou?
Thulio observava quieto os dois mundos em que aterrizou. Rapazinho de 7 anos compenetrado, discreto, conseqüente. Assimilava tudo calado. E tinha certeza absoluta que pocorrócho, pequerrechos e etc. eram palavras nobres e genuinamente corretas da língua portuguesa.
Complicava quando os pais brigavam por coisas banais como desembaraçar os cabelos de Thulio:
– Mas cabelo se desembaraça molhado!
– Não! Tem que esperar secar pra desembaraçar!
– Escuta aqui, você por acaso entende de cabelos? Você passou anos careca…
– Careca não, eu tinha um Moicano…
– E passava sabão em pedra pra armar! Eu sim tinha uma cabeleira encaracolada!
– Que nunca penteava…
– Nem precisava, tacava um Neutrox e tava beleza!
Thulio sabia esperar, ouvir, ponderar. 120 centímetros de gente super cool. Enquanto os dois falavam, ele montava uma arma mortífera com peças de Lego e conversava com seu Teddybär (urso de pelúcia):
– Enquanto esses dois streiten (discutem), as cabelos estão já seco …
Um belo dia a familia jantava, tudo nos conformes. Silêncio. A calma da civilização pairava no ar. Thulio abriu a boca:
– Eu „querrro“ aprender sambar!
Todos se entreolharam. A mãe na hora pensou: „Eu na condição de austríaca perfeitamente integrada no país, diria: meu filho, aprenda valsa, é muito melhor! E se eu fosse a mãe imperfeita seria: Ok, matriculo você no cursinho do Maurinho Mastro e aproveito e vou junto! Mas num pretérito-mais-que perfeito…“ – Ela abriu a boca grande e pulou da cadeira como que acordando de um pesadelo:
– AAAAAiiiiii!!! Meu filho não sabe sambar! SOCORRO! O que eu estou fazendo aqui? – Vira-se para o marido – E o pior: o que nós estamos fazendo com os nossos filhos, amôôr? Vão bora galera, já, já! – Thulio pensa: Ai, que mulher dramática! – A mãe não parava de falar enquanto retirava os pratos da mesa sem ninguém ter terminado de comer.
– Arrumem as malas porque estamos em outubro, a gente chega lá e até fevereiro temos tempo.– O pai olhava pro Teto.
– Mereço isto agora, meu Deus? A macarronada estava tão boa…
Ela falava sem respirar, equilibrando os pratos numa mão e com a outra puxava o queixo do menino em direção ao rosto dela:
– Mama te leva na Viradeiro toda semana, na feijoada da Mangueira, ah e a empregada da vovó já foi até porta-bandeira! Ela vai te ensinar tudinho!– O mais velho olha para a janela pra ver se não tem nenhum vizinho observando. A surtada continuava:
– … te inscrevo pra ala mirim da Porto da Pedra e em fevereiro você vai fazer bonito na avenida! Bora, bora, gemma, gemma (= vamos!)! E ainda por cima a gente vai comer feijão todo dia! – Ela encara a platéia. O pai agora olha pra baixo onde deveria estar o seu prato, o maior enfiado com a cara numa revista em quadrinhos, Thuthu pensativo apoiando o queixo nas mãos.
– O marido da Fabíola apresenta você pro Hans Donner, amor. Pô, conterrâneo, brother teu, Schatz! – O marido protesta:
– Pra eu fazer coqueiro virar mulher e mulher virar arco-íris? Ah, você acha que eu levo jeito pra fazer isso?
– Com dinheiro na conta a gente leva jeito pra tudo, Schatz! E imagina você que adora futebol, assistir a copa do mundo no Maráca! – Os olhos brilhavam, os braços em segunda posição de ballet tentando descrever a grandeza do Maracanã.
– Eu me viro de guia turística, dou aula de alemão, e no pior dos casos monto uma barraquinha de Strudel e Knödels no posto 9 e… Ué, por que ninguém se mexe? Galera, hellôô!
Thúlio finalmente se manifesta:
– Mãe, vai dar não, meu Teddybär vai sentir muito calor no Brasil…
Com quantos paus se fazem uma fogueira?
Aconteceu no início dos anos 80. Naquela época, achar agulha num palheiro era mais fácil do que ver um negro por estas bandas. Maurinho Mastro – nego bonito, baiano cheiroso que só ele, com ginga no corpo e sorriso irresistível, dentes branquinhos – pousou por estas terras pra tocar numa dessas bandas em algum festival desses numa dessas cidades, e acabou ficando. Vocabulário alemão primitivo, conquistava a todos só com a simpatia. As austríacas caíam na cama dele que nem peças de dominó enfileiradas, tum, tum, tum, tum…. E isso quando tinha cama. Porque Maurinho rodava a Europa de Kombi, junto com outros amigos, tocando samba, bossa nova e essas coisas de que gringo gosta. Ótimo percurssionista. Tinha ritmo no palco e na vida. Derrotava mulher e adversário só na lábia e no sorriso.
Voltando da Suíça, a galera para na fronteira pra ir ao banheiro, e Maurinho vê, jogados no gramado ao lado, vários pedaços de madeira em bom estado. Pô, a Kombi vazia, o inverno chegando, a madeira dando sopa… Seria tudo de bom na lareira do apartamento emprestado, que não possuía calefação. Maurinho rapidamente começou a recolher a madeira e colocar os pedaços no carro. O policial louro, alto, forte vem a todo vapor em direção ao nego.
– Ei, ei, você aí, africano!
– Eu não sou africano, sou brasileiro!
– Aaah, brasileiro, africano, pra mim é tudo a mesma merda! Que ideia é esta de pegar a madeira? Você tá pensando que tá na África?
Maurinho, muito nervoso, mas sem perder o bom tom:
– Eu não sou da África, sou do Brasil!
– Aaah, Brasil, África, pra mim é tudo a mesma merda!
Maurinho abre aquele sorriso „tudibom“ pra ajudar na desculpa esfarrapada:
– Ah, seu doutor. É que me disseram que, aqui na Áustria, tudo o que a gente vê no chão, a gente pode pegar.
– Aqui não é a Áustria. Aqui é a Suíça! – Maurinho rapidamente fechou o porta- malas, entrou no carro, ligou o motor e falou firme para o guarda:
– Aaah, Áustria, Suíça, pra mim é tudo a mesma merda! – E saiu batido, cantando pneu, deixando pra trás o guarda pasmado