Saunódromo!

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Um casal de conhecidos da minha família veio visitar Viena. Depois de ter dado uma „relaunch“ na mala deles, conseguimos sair para passear sem que eles quisessem voltar para o hotel depois de 10 minutos. Dá pra entender. Eu também sofri até aprender a me agasalhar, entender a diferença de 1 grau com sol, sem vento (dá pra aguentar sem luva), sem sol (bota aquela de lã e vai fundo!), com vento (luva de couro e punhos fechados!), sem vento com neve (impermeável acolchoada– ótima pra fazer gerra de neve) e descendo pra negativo (o jeito é botar a de pele de carneiro e ter fé em Deus!)
E imagino alguém agora no Rio de Janeiro com 40 graus, derretendo de calor, fazendo uma mala pra viajar pra Europa. Qualquer casaquinho de lã parece o suficiente pra aguentar a Sibéria!
Daí chegando aqui Suzana percebe que aquela botinha fofa de camurça comprada na liquidação da Arezzo esquenta tanto quanto uma Havaiana na neve! Aquele casaco de Couro que Rômulo usou só uma vez no festival do vinho em Friburgo e achou super-quente, em Viena parece que acabou o efeito. Ela fica gostosíssima com aquela calça jeans bem arroxada da Forum mas não há espaço pra colocar uma meia microfaser por baixo sem a qual a bunda congela. E falar em bunda, Suzana me mostrou toda orgulhosa o desenho da sua fantasia de carnaval, explicou todos os detalhes:
– Aqui nos tornozelos, no pescoço e nos pulsos, braceletes bordados de paetê. Na cabeça um enorme enfeite de plumas e penas de pavão, nas costas também um enorme arranjo…
– Lindo, Suzana, um arrazo! E no corpo o quê tem?
Ela ficou sem saber o que responder e de repente seu rosto se iluminou:
– Purpurina! Só um pouquinho aqui e aqui – Suzana apalpou com a ponta dos dedos sua púbis marcada pela calça apertada e seus seios duros de silicone. Tenho até um pacotinho aqui na bolsa, já vem com uma cola especial. Olha como são lindas!
– Sei, sei. Mas Suzana, nem um paninho, um biquininho?
– Nããããooo! Tá louca? Pra estragar tudo?! Já tô com tudo em cima: Silicone, Lipo, malhando todo dia…– Enquanto falava, ela passava a mão no corpo cheio de roupa, mostrando os lugares „com tudo em cima“.
Rômulo que era do tipo caladão, sorria orgulhoso da mulher. Ela realmente é uma morena que não deixa nada a perder para Juliana Paes.
Emprestei para a Suzana colocar por cima do casaquinho de lã, um Daunenjacke (Casaco de Penugem) e um bom sapato forrado de sola grossa. Rômulo coube num casaco de pele de carneiro do Maridão mais as botas de neve e fomos á luta. No mesmo dia liquidamos Stephansdom, Belvedere, Mariahilferstrasse e ainda demos uma passadinha no Naschmarkt aproveitando pra tomar um café do lado de fora das novas varandas aquecidas. Experiência interessante: a cara fica vermelha e os pés congelam por que as lâmpadas de aquecimento ficam penduradas no toldo da varanda.
Entre um melanginho (café com leite) e outro, contei para eles sobre as saunas maravilhosas que existem aqui. Banho turco, cabine de eucalipto, piscinas aquecidas, banheiras com hidromassagem, um SPA total. Eles ficaram interessados em conhecer só pra sentir de novo uma gotinha de suor escorrendo pela testa…Rômulo chegou xingando o calor carioca e depois de 3 dias já suspirava de saudades lembrando do asfalto derretido grudando no sapato e sonhava em poder sair do banho frio já suando de calor!
No dia seguinte, peguei eles no Hotel e achei bom prepará-los para a empreitada – Austríaco adora ficar observando os outros e quando eles sentem que você não é do pedaço, dependendo do humor, eles podem dar uma de pedagogos com você ou então soltar aquele dialetão rude e dar ordens. Então pra evitar micos, vou explicar algumas coisinhas para vocês:1) Antes de entrar na Sauna, tem que tomar uma ducha. 2) Em cima da entrada da porta da sauna, tem uma luzinha, se tiver vermelha, não entrem por quê serão vaiados e depenados. 3) Uma vez dentro da sauna, pelo mesmo motivo, se quiserem sair com vida, só saiam com a luz verde. 4) Quando alguém levantar e começar a fazer movimentos com uma toalha branca, vindo pra cima de você e quase dando uma rabanada na tua cara com a toalha, não se assuste! Daí, se todo mundo começar a gemer de prazer e se depois deste espetáculo, todo mundo bater palmas, não riem! Este é tipo o „momento da óstia“ para eles e nem em pensamento queiram no meio deste show, abrir a porta para sair, suas chances de sobrevivência são mínimas, mesmo derretendo de calor, aguentem firme. É o famoso Aufguss (infusão), joga-se água em cima das pedras do forno para aumentar a umidade da sauna, sua-se mais rápido e os movimentos com a toalha é para espalhar a umidade que fica concentrada no teto.
Achei que tinha esclarecido os pontos importantes. Chegando lá, para a troca de roupas mostrei-lhes o caminho para a cabine familiar e eu fui para a ala de cabine simples. Nos encontramos na ante-sala das saunas.
Eu dei um grito. Ela deu um berro. Ele deu uma gargalhada!
Eu – O quê vocês estão fazendo „vestidos“?
Ela – E o quê você está fazendo pelada?
Ele – Você chama de „vestidos“ este micro-biquini da minha mulher e a minha sunguinha quatro palmos?
E agora? Como explicar pra estes cariocas que é extremamente proibido entrar vestido na sauna…
– Gente, olhem ao redor, tá todo mundo pelado!
Eles cochichavam um com o outro dando riadinhas maliciosas – Olha o pirú daquele ali! – Olha a pombona daquela lá! Hihihi…
Eu morrendo de vergonha – Comportem-se, o Bademeister (Mestre do banho) está vindo na nossa direção..
– Grüss Gott! Sie durfen keine Badesache anhaben!
– Ele tá falando que tem que ficar pelado, gente!
– Então fala pra este mané aí que a minha mulher só fica pelada na minha frente e na frente de mais ninguém!
Eu (em alemão): – Sabe o que é, seu Bademeister, é que, é…é que a religião deles não permite.
– Es tut mir leid, das sind die Regeln. So dürfen Sie die Sauna nicht verwenden. Sie müssen den Raum verlassen. (Sinto muito, assim vocês não podem entrar. Então retirem-se do ambiente.)
Traduzi e Rômulo ficou enfurecido – Suzana, eu vou embora! Vou tomar uma daquelas cervejas deliciosas ali no pub da esquina. Lá tem TV e tá passando futebol. Muito melhor do que olhar este bando de manés pelancudos…se você quiser ficar, tudo bem mas COM biquini. Se vira aí com a Lina!
Eu também fiquei furiosa e abri a boca pra falar que mané era ele de achar lindo a mulher „a la natura“ na avenida pra sambódromo inteiro e milhões de espectadores da Globo mas pra meia dúzia de inocentes branquelos pelancudos não pode! Que preconceito! Mas ele já tinha ido embora. Suzana argumentou por ele:
– Aaah, caaara! Mas no Sambódromo é diferente, é outro astral…
Eu pelada de braços cruzados – Sei, sei…
O Bademeister irritado de braços cruzados – Was ist dann? (E aí?)
Tentei convencer Suzana a tirar aqueles centímetros de pano, decisivos para a nossa aceitação no local – Suzana você poderia…– ela me interrompe.
– Nããããooo! Tá louca? De jeito nenhum!
Ai meu Deus, e agora? Além de não poder entrar, ainda vamos ter que bater mais boca na portaria por que eu vou querer minha grana de volta…e este Bademeister tá ficando impaciente e eu tô com frio, doida pra entrar no quentinho…De repente, clareou – Tive uma idéia! Tá tudo resolvido! Suzana, pegue aquele pacotinho de purpurina na tua bolsa…– fui interrompida:
– Mas, Lina, você não está…– interrompi:
– Fica tranquila, é só um pouquinho aqui e aqui – Apalpei com a ponta dos dedos minha púbis desnuda e meus seios duros de frio.

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